SAÚDE MENTAL: INCLUSÃO DOS SENTIMENTOS

Levar mais #autoconhecimento às organizações tem me permitido algumas reflexões em torno das discussões sobre a #saúde mental para lidar com o problema que tem afetado os indivíduos e os negócios.

Neste primeiro mês do ano, diante dos dez anos da campanha #janeirobranco, o tema ganhou mais espaço nos ambientes organizacionais. Trago minhas contribuições com intuito de gerar trocas significativas e trazer novos e mais elementos para provocações na tomada de decisões e na condução de programas e práticas organizacionais que delimitam a responsabilidade compartilhada que cabe também às organizações, aos líderes e às áreas responsáveis por pessoas. Para tanto, começo com reflexões que valem para os indivíduos e o lugar que ocupam na organização. Consequentemente, isso impacta o ambiente corporativo.

  1. Atribuímos à mente a resolução de questões que não estão somente a cargo da razão, do raciocínio e do intelecto. Os problemas e sintomas de ansiedade, crises de pânico, esgotamento mental (Burnout), estresse, depressão e crises de angústia contêm elementos emocionais também. Estamos falando de saúde emocional que ainda não está no rol de prioridades ou não é vista como fundamental para incluir as nossas vulnerabilidades, idealizações, dores, vergonhas, culpas… Mente saudável é ir além da vontade do ego. Não é abrir mão do ego, mas não ser guiado somente por ele. 
  1. Sobrecarregamos a mente com questões emocionais que não são vistas e cuidadas ou ainda trazidas à consciência. É comum que as pessoas confundam “não sentir” com maturidade emocional. Não é! Negar os sentimentos não é sinal de inteligência emocional.
  1. É muito comum também que as pessoas confundam sentimentos com pensamentos. A maturidade emocional se dá quando temos coerência entre os nossos pensamentos, sentimentos e atitudes conosco e nos relacionamentos. Há quem fala manso, é agradável e solícito, mas a pessoa não se expressa, não se coloca, se submete ao outro. Já as pessoas que falam pouco podem parecer mais calmas, respeitosas, sábias, mas só cada um pode verdadeiramente revelar se – por trás deste comportamento – não há pensamentos de julgamentos e críticas que apenas não são ditas, não reveladas. Ou ainda quem confunde expressar as emoções com imposição da sua vontade e às vezes com agressividade confundida com força ou poder. É aí que o autoconhecimento é primordial porque se trata de ir além dos pensamentos que podem esconder sentimentos.
  1. O uso das expressões “controle emocional” ou “domínio das emoções” ainda carece de uma análise semântica mais aprofundada. Os reais sentimentos tendem a estar mais escondidos, negados, especialmente quando não são sentimentos validados como certos, corretos. Controlar não é negar. Controlar ações e reações é diferente de sentir e nomear qual a emoção ou ainda os sentimentos envolvidos. Sentir não é agir.
  1. Por isso, motivação é a palavra de ordem. O que importa – de fato – é a intenção, a motivação, os por quês estamos tomando essa ou aquela decisão. O ser humano tem motivações saudáveis e negativas também. Saber reconhecer e diferenciar essas motivações é uma arte que exige uma certa dose de autoanálise. É comum que as pessoas acreditem que determinar os comportamentos – ou seja, uma atitude externa, um tom de voz – sejam suficientes. Mas o fundamental é avaliar as motivações de um determinado padrão de ação, de respostas às situações da vida.
  1. Ações baseadas no medo, na vaidade, no controle, na dependência, na culpa, na vergonha, na hostilidade, na ausência, no reconhecimento externo ou melhor na aprovação externa são alguns exemplos que merecem uma autoanálise. Ninguém é “sempre assim” ou “nunca faz isso”. Os extremos (ou/ou) são imaturidades Não é um pensamento “ou/ou” (certo ou errado, bom ou mal, por exemplo), mas uma postura de inclusão das motivações positivas e de conscientização das motivações negativas. É incrível como a verdade das motivações traz movimento espiral para as organizações e aos indivíduos. Todos ganham! 
  1. Só uma autoanálise para ouvir as vozes que moram dentro da gente. Conhecer nossa real autoconfiança em nossa autoexpressão. Os sentimentos não sentidos podem ser expressos, percebidos ou revelados também no corpo: um frio na barriga, um aperto na respiração, mãos geladas ou suadas, entre outros sintomas que o próprio corpo revela que estamos usando a mente para controlar e dominar alguma emoção, reação emocional ou sentimentos. Não é saudável deixar de reconhecer os reais sentimentos. Isso vai gerar um desequilíbrio. No entanto, é preciso dedicação para aprender a ampliar o repertório de sentimentos. Preventivamente é mais leve. Nas crises fica mais intenso, dolorido ou frustrante.
  1. Quanto esforço cada um faz para ser ou parecer quem não é. Existe muita idealização e se faz confusões gigantescas entre necessidades adultas e necessidades infantis. Neste território, só autoconhecimento mesmo! Afinal, olhar com profundidade para as motivações. Só um ato de vontade para querer se autoconhecer e ir além dos comportamentos externos.
  1. Levando esta abordagem para o coletivo, é relevante dizer que um indivíduo afeta e é afetado dentro de um sistema como as organizações. Por isso, cada um é o ponto de partida e sua transformação pessoal impacta o ambiente. Coletivamente, as organizações também podem ocupar um lugar para contribuir com o amadurecimento deste tema, aprofundar nas suas causas e efeitos de forma transparente e colaborativa para contribuir com um problema que impacta os negócios, mas também é um problema social, de enorme impacto na sociedade. Afinal, o trabalho é um local provocativo para desencadear reações nas relações. Aqui também o que direciona é a motivação da empresa, dos negócios. O desafio passa por delinear como pode ocorrer uma troca, um apoio saudável entre os profissionais nas organizações, sejam líderes ou não.
  1. Promover um ambiente mais sadio pode ser possível ao aliar a identidade e a cultura de uma organização numa direção que inclua a coerência entre discurso e prática sobre os impactos da saúde mental aos negócios. Clareza de propósito, de valores e de crenças com mais autoconhecimento que inclua os reais sentimentos e motivações. Ir além do discurso! Isso vale na relação da organização com os indivíduos, os líderes, as áreas e também no diálogo transparente com as partes interessadas e steakeholders. Ter princípios claros e uma escuta ativa em torno de situações reais contribui para estratégias e ações táticas mais consistentes e verdadeiras.
  1. Essa escuta inclusive direciona a criação de ações voltadas ao bem-estar. Hoje em dia, ter inúmeras ações e muitas vezes não saber para onde ir, o que priorizar ou os por quês de determinadas ações podem ser armadilhas. Ter cuidado ao excesso de fazer, de ações, de automatismos (como fazer porque “todo mundo” está fazendo). Ter conexão com a cultura.
  1. Um exemplo bastante comum são às críticas aos programas de bem-estar que oferecem meditação e outras técnicas de respiração, por exemplo, sem antes gerar provocações do status quo com relação aos padrões de comportamento incoerentes com ações, como relações tóxicas, postura de líderes entre outras situações que podem ser mais um dos fatores que geram esgotamento mental, excesso de atividade, compulsões. Não tem certo ou errado. Tem escolhas possíveis atreladas às reais motivações. O que importa são as motivações. Priorize! Menos é mais! Foco!

A Campanha #janeirobranco e datas semelhantes como o Dia Mundial da Saúde mental (10/10) e Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18/05) possam impulsionar mais movimento e estímulo para a efetivação de políticas públicas e certamente estimular organizações e a sociedade civil politicamente organizada na criação de um movimento positivo em torno da saúde mental. Ao meu ver, é preciso um novo olhar! Incluir os sentimentos. Aí mora um novo território porque o desafio é direcionar as decisões em posturas adultas sem emaranhados com as necessidades infantis e imaturas. Sem generalizações ou rótulos. Sem reforçar a transferência que se faz os líderes e afins das autoridades parentais.

É claro que essas reflexões provocativas não se esgotam por aqui e podem ser lidas com diferentes “tons de voz”. Assumi correr este risco escrevendo porque realmente acredito que este assunto merece cuidados de muitos ambientes organizacionais assim como outros temas que já tratamos por aqui como sustentabilidade.

Quero contribuir de alguma forma e estou à disposição para mais trocas. Afinal, acreditamos que o negócio e a cultura acontecem nas interações. Trocas sadias, focadas e significativas são capazes de transformar as pessoas, as organizações e até o mundo. Que o primeiro mês de ano tenha sido uma oportunidade para escrevermos novas metas, novas posturas para lidar com as adversidades da vida e que mais gente se sinta tocado por contribuir com mais vida, à serviço da vida.

Daniela Reis, idealizadora da Navigo Facilitação. Promovemos estrutura, processo e segurança psicológica para que grupos possam identificar problemas, desenhar caminhos e tomar decisões nos desafios dos negócios. Para isso, usamos a facilitação e o autoconhecimento para cocriar estratégias criativas de negócios e potencializar uma liderança facilitadora na solução de desafios complexos.